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Notícia - 22/07/2016 - Ex-empregada doméstica lança campanha nas redes sociais para denunciar abusos de patrões
22/07/2016 - Ex-empregada doméstica lança campanha nas redes sociais para denunciar abusos de patrões
Joyce, você foi contratada para cozinhar para a minha famÃlia, e não para você. Por favor, traga marmita e um par de talheres e, se possÃvel, coma antes de nós na mesa da cozinha; não é por nada; só para a gente manter a ordem da casa.
Essa foi, segundo a paulista Joyce Fernandes, de 31 anos, uma das frases que ouviu de uma ex-patroa em seu último trabalho como empregada doméstica, em 2009.
Hoje professora de História, ela decidiu criar a hashtag #EuEmpregadaDoméstica e uma página homônima no Facebook para denunciar o que chamou de abusos dos patrões.
Meu objetivo é provocar e dar voz a quem não tem voz. Esse tipo de tratamento desumano acontece entre quatro paredes e essas mulheres, a maioria negras, não têm com quem desabafar, conta ela à BBC Brasil.
Quero expor o que está sendo varrido debaixo do tapete. É preciso humanizar a relação entre patrões e empregados. Muitas vezes, naturalizamos agressões e opressões. Isso está errado, acrescenta.
Cantora conhecida na cena de rap de Santos, onde vive, Joyce, que se apresenta com o nome artÃstico Preta-Rara, conta que a campanha ganhou força após ela postar um comentário em sua página no Facebook na última quarta.
Venho fazendo terapia e, nesse processo de autoconhecimento, tive a ideia de compartilhar uma situação que havia sofrido na minha página no Facebook com a hashtag #EuEmpregadaDoméstica. Queria encorajar pessoas que talvez tivessem passado pela mesma coisa, lembra.
O sucesso instantâneo surpreendeu Joyce.
Fiquei chocada com a quantidade de comentários. Meu celular travou com tantas notificações. Criei, então, uma página no Facebook especialmente para compartilhar esses relatos, acrescenta.
A página, criada à meia-noite desta quinta-feira, já tem mais de 20 mil seguidores.
Hoje professora, Joyce Fernandes criou hashtag e página após sucesso de post
Tratamento desumano
Entre as centenas de relatos que recebeu, Joyce diz ter ficado particularmente comovida com o de uma empregada doméstica de 76 anos que teve de subir vários andares de escada porque o elevador de serviço do prédio onde trabalhava havia quebrado.
O filho dela me contou que a mãe trabalha há 30 anos com a mesma famÃlia. Eles moram em um prédio de alto luxo. O elevador de serviço quebrou e, impedida de usar o social, ela acabou tendo de subir vários andares de escada, diz.
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Segundo Joyce, a profissão de empregada doméstica deveria acabar, pois se trata de um resquÃcio da escravidão.
Mas enquanto isso não acontece, temos de lutar por um tratamento mais humano e igualitário. Não queremos ser da famÃlia. Também não queremos desrespeitar hierarquia. Queremos apenas um tratamento justo, afirma.
Infelizmente, para nós, mulheres negras, ser empregada doméstica é algo hereditário. Minha mãe, minha tia e minha avó foram empregadas domésticas. Não é possÃvel disassociar isso da nossa história de escravidão.
Joyce diz que ouviu de outra patroa que não deveria estudar por causa de sua condição social.
Eu lhe havia pedido para sair mais cedo para poder fazer um curso pré-vestibular. Ela se recusou a me liberar dizendo que meu destino era ser empregada doméstica, como todas as mulheres da minha famÃlia, afirma.
Se conseguimos lidar com a limpeza do nosso corpo, por que não podemos limpar o nosso lixo? Por que precisamos de empregadas domésticas?, questiona.
Além de lecionar História, Joyce criou projeto de empoderamento de mulheres acima do peso
Final feliz
Mas nem todas as experiências como empregada doméstica foram negativas: Joyce diz lembrar-se do apoio que recebeu de uma ex-patroa.
Um dia estava limpando a prateleira de livros e ela me emprestou um deles. Era Olga, do escritor Fernando Morais. Ela me incentivou a retomar os estudos e a fazer a faculdade de História que eu tanto queria, diz.
Além de lecionar, Joyce criou um projeto de empoderamento de mulheres acima do peso, a Ocupação GGG (fizemos um ensaio na praia de Santos para combater a gordofobia). E também usa a música como instrumento de mudança social.
Tenho um projeto pedagógico pelo qual levo o hip hop para as escolas falando sobre questões sociais dentro de uma abordagem mais pessoal, afirma.
Prefiro usar meu microfone para cantar ou recitar a fazer discursos. Acredito que consiga envolver mais pessoas, conclui.
Fonte:BBC Brasil
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