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Notícia - 06/09/2012 - Conheça a história das empreguetes que venceram na vida
06/09/2012 - Conheça a história das empreguetes que venceram na vida

Elas estão na moda. Foram descobertas. O trabalho da Gersina de Mattos César e da Ozana Nicodemos está virando uma superprofissão no Brasil.

Elas estão na moda. Foram descobertas. O trabalho da Gersina de Mattos César e da Ozana Nicodemos está virando uma superprofissão no Brasil.
Ozana é diarista e anda feliz da vida com o que recebe pelas faxinas.

"Eu não gosto de falar muito o meu salário, porque isso é ruim. Mas o salário é bom. Tem muita oportunidade para diarista", disse Ozana.
A Gersina também é doméstica. Só que trabalha apenas numa casa. Para a mesma família, há mais de dez anos. História de muita confiança. Que começou quando o Caio tinha 3 anos. A patroa foi trabalhar fora. E quem cuidou dele foi Gersina.

"Pra mim é como se fosse um filho. Ele até falava quando a mãe dele não tava aqui, eu era um pouquinho assim a mãe dele", explicou Gersina.

Mas a Gersina tem seus próprios filhos.

“Vocês nunca ficaram com ciúme do ‘preferido’ dela, o Caio?â€, perguntou o repórter Gaspar aos filhos de Gersina.

"Não", respondeu a filha dela.
Eles dizem que sempre torceram pela mãe e, agora, crescidos, torcem para ela continuar.

"Agora quem não quer que ela saia sou eu", afirmou o marido de Gersina, Valdemir Ferreira César.

"Devagarzinho a gente chega lá", brincou Gersina.

E como chega. O terraço da casa dela, com vista para o entardecer, é prova disso. Com o salário da Gersina, mais o do marido motorista, mais a ajuda dos filhos, a casa vai sendo ampliada.

“Vocês estão subindo na vida, não?â€, perguntou Gaspar.

"A cada dois, três anos, eu faço um cômodo, faço outro. Melhorou um pouco. Depois que a família cresceu mais. Todo mundo trabalha. Com certeza melhorou. O trabalho dela contribuiu pra isso. Uma boa ajuda", respondeu Valdemir.

E os sonhos parecem cada vez mais reais.

"Agora temos até a novela. Ajudando as domésticas. É uma profissão que eu acho que é essencial pra população. Deveria ser mais valorizada. Até está difícil, hoje, de encontrar uma empregada domésticaâ€, disse a filha de Gersina, Viviane de Mattos César.
Será mesmo verdade? As empregadas domésticas estariam desaparecendo? Quem entende do assunto diz que não é bem isso. Mudaram as condições de trabalho. Os salários, as patroas. As empregadas.

"Empregada doméstica não está faltando. O que está faltando é empregada doméstica escrava. Que trabalha por qualquer salário. Por qualquer condição de trabalho. Essa não existe mais. Agora, a empregada quer ter um salário decente, condizente com o trabalho que ela faz. E o que ela pode oferecer e os direitos garantidos por leiâ€, afirmou a presidente do Sindicato das Empregadas Domésticas – SP, Eliana Gomes Menezes.
É o caminho do futuro para essas profissionais que, principalmente nas grandes cidades, enfrentam longas viagens até o trabalho e na volta pra casa.

No ritmo desses novos tempos, fomos a Uberlândia, Minas Gerais. Saber como anda a Ozana, a diarista conhecida por esticar os dias.

"São 30 anos de faxina. De dia, de noite, para mim não tem horário. A jornada de trabalho começa às 6h", contou Ozana.

Eram 7h, quando chegamos à casa dela. E que casa.

"A casa tem três quantos. Se a gente tiver uma agenda lotada, dá para você ganhar bem", disse Ozana.

Mas ganhar quanto exatamente? Não adianta insistir. Ela faz mistério.

“Só aqui entre nós. As pessoas se surpreenderiam se soubessem?â€, perguntou o repórter Alberto Gaspar.

"Olha, é como eu falo para você. Eu acho até que surpreenderia, mas é porque eu tenho a minha agenda lotada e eu trabalho muito. Então, eu trabalho durante o dia. Completo à noite porque à noite eu sou babá. Inclui fim de semana. Então, é assim: você ganha, mas você tem que trabalhar. Não adianta, vamos supor, você ser diarista e ter três dias na semana", respondeu Ozana.

É claro que essas jornadas duplas, triplas, só são possíveis com muita força de vontade e numa cidade média, sem grandes distâncias, quase sem trânsito. Mas, no caso da Ozana existe ainda outro detalhe que ajuda na produtividade, o tempo de casa, ou nas casas, em algumas delas são décadas de trabalho.

Quem sabe bem onde pisa, anda mais rápido. Aproveita melhor o tempo. Mas há outro lado.
“Agora, parece que ela é um pouco careira, não é?â€, perguntou o repórter.

"Ela é. Ela valoriza o serviço dela. Sempre foi assim. Ela é diferenciada, ela valoriza. Ela pode fazer isso", respondeu a patroa, a dona de casa Marise Barreira Ribeiro.
“É um preço justo aquilo que eu pago para ela. Faz valer aquilo, sabe? No final do dia, eu chego, minha casa está cheirando. O cheiro da limpeza. Além da confiança. Além da simpatia. É uma pessoa que está há mais de 20 anos comigo. Ela está comigo desde quando ela começou. Então quando eu indicava a Ozana, sabe o que eu falava? ‘Você quer uma pessoa diferenciada?’â€, ressaltou a empresária Joanna D’Arc de Oliveira.
Diferenças que valem muito, mesmo. Para o Caio, por exemplo. Quem é que sabe onde está tudo que ele precisa?

"Quando é fim de semana, quando ela não está aqui. Eu preciso achar alguma coisa, eu ligo para ela. Ela sabe tudo", respondeu o estudante Caio Nogueira de Sá Maia.

“E a senhora nunca pensou em dispensá-la, não?â€, questionou Gaspar à Marise, patroa de Ozana.

“Ah, não", respondeu.

“E se, um dia, ela fosse embora?â€, indagou o repórter ao Caio.

"Não sei o que seria não. Prefiro eu ir embora do que ela", respondeu o jovem.
“E esse negócio de cuidar de criança, no caso dessa casa. É uma história muito especial, não é?â€, questionou Gaspar.

“É uma história muito especial. Eu conheci o pai dele quando ele tinha quatro aninhos, quando ele tinha a idade do Guilherme. Foi uma história linda e é uma história linda. A mãe dele morreu e eu acho até que sou uma avó postiça. O amor que eu tenho nos meus netos eu tenho neles", ressaltou Ozana.

"Minha sogra morreu já vai fazer seis anos então ela não conheceu os netos e aí a ‘Ozaninha’ faz esse papel. O que não a impede de trabalhar e bem como empregada. Ela toma conta de tudo. E isso para mim é muito bom. Porque eu não preciso pedir nada para a Ozana", explicou a pedagoga Angela Maria Dias Rocha.

Já Gersina virou babá meio por acaso. E por afinidade, claro. Trabalho assim é sempre mais estimulante. Fora a vontade de ser independente.
"Trabalhar faz bem. Quando a gente pega assim o dinheiro da gente sem ter que estar pedindo para ninguém. Sem ter que daar satisfação. É bem melhor", disse Gersina.

"Vontade assim de vencer, levantar cedo. Vir à noite, dormir pouco. Deixar a família. Meus filhos, por exemplo, meu marido foi quem criou. Nunca tive tempo de levar em pediatra. Reunião de escola. Ele é o dono da casa. Ele me ajuda muito, é um marido de ouro que eu tenho", acrescentou Ozana.

A casa da Ozana já está pronta. Os planos agora são fora daqui. Viajar.

“A primeira viagem que eu fiz foi a que eu fui para a Itália ver meu neto nascerâ€, contou Ozana.

Foi há seis anos. O Globo Repórter até acompanhou a viagem da Ozana. E nem em Florença ela deixou de arrumar umas faxinas.
Ela acaba de viajar com a família toda. Foi a Porto de Galinhas comemorar o aniversário e mais os 30 anos de tempo de serviço.

“Todo mundo foi comigo e paguei tudo à vista", contou Ozana.

Se depender da família, a casa de Gersina ainda alcança o horizonte.

“Você já falou dessa questão econômica. Você nunca foi contra ela trabalhar?â€, perguntou Gaspar.

"No começo, aqui em São Paulo, eu era. Eu era um pouco ciumento também. Ela era nova ainda. Pegar esses ônibus lotados", revelou o marido de Gersina.

Mas e hoje, nesses trens. No metrô. Tempos modernos?

“Agora liberei. Na hora que eu aposentar, quero a casa já terminadaâ€, explicou o marido de Gersina.

E a Ozana, ligada no 220V há 30 anos, pensa em parar?

"Ainda não. Ainda não eu ainda não estou assim preparada porque eu, graças a deus, ainda não estou sentindo nada. Eu não estou preparada ainda para parar porque eu acho que o trabalho alimenta a minha alma", afirmou Ozana.
"O preço dela é diferenciado, mas ela é um ser humano diferenciado. Ela é única. Ela vale cada centavo cada real muito bem", disse Angela.

“Nem meus filhos sabem quanto que eu ganho. Aí eu não vou falar na televisãoâ€, completou Ozana.


Fonte: g1.globo.com
 
 
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